Continuando com as Crónicas da Viagem, do Lobo pela Índia, após a visita ao Rajastão, com especial
destaque para Jaipur, a Cidade Cor-de-Rosa, seguimos para Varanasi,
o local mais sagrado do hinduísmo. Localizada nas margens do Ganges,
segundo a lenda, terá sido criada a partir de um dos dentes do tridente do
próprio Lord Shiva, sendo uma das cidades mais antigas do mundo, com
cerca de cinco mil anos de existência.
A ligação foi feita de
comboio numa carruagem de 4ª classe. Obviamente que foram horas muito
animadas, já que as janelas não tinham vidro e o meu cabelo ficou repleto de
gafanhotos. Os “bancos” [que é como quem escreve, as tábuas] também não eram particularmente confortáveis,
mas valeu pelo convívio com uma família indiana, que insistiu em tirar um monte
de fotos connosco. Também, por um euro e nada, o que mais se podia exigir?
Varanasi não é uma cidade para ser visitada ou vivida, mas sim para ser sentida.
Este é o local onde as famílias indianas levam os seus mortos para ser cremados,
cujas suas cinzas são atiradas ao Ganges. A título de curiosidade, terá sido
este o sítio escolhido para o funeral do Beatle, convertido ao Hinduísmo, George Harrison. Ao inspirarmos o primeiro ar do Ganges, rapidamente
compreendemos os motivos que a levaram a ser considerada a cidade mais sagrada
do país, já que a religião e o misticismo invadem cada recanto. Não diferindo
da restante Índia, apresenta um trânsito absolutamente caótico, agravado pelo
facto de possuir o maior número de Rickshaws de todo o país. As “estradas”,
na sua maioria de terra batida, encontram-se pejadas de lixo e de excrementos
das centenas de vacas sagradas que por lá deambulam.
Já que tínhamos por
objetivo desfrutar, em pleno, a espiritualidade e os rituais Hindus, optámos por
fazer um passeio de barco e ver o nascer do sol no rio. Assim, pelas 5.30h da
matina, lá estávamos nós a entregar a nossa oferenda a Lord Shiva,
composta por velas e flores. Confesso que este foi um dos momentos mais
tocantes e marcantes da minha vida. Contemplar o nascer do Sol no Ganges, em
toda a sua magnificência, é literalmente brutal, de cortar a respiração. Três cadáveres
humanos a flutuar [sim, porque os pobres, as mulheres grávidas e os que morrem de veneno
de cobra não podem ser queimados], piras com corpos a arder, e centenas de pessoas a tomar o banho
sagrado, são momentos que jamais esquecerei.
Graças ao S., amigo indiano do meu irmão, tivemos, igualmente, o
privilégio único de visitar os principais templos da cidade, de acordo com o
preceito Hindu, e não como meros turistas, e observar de perto as piras
crematórias. De salientar a cerimónia dedicada a Shiva, de nome Puja, que acontece todos os dias, pelas 19.00h, em Dashashwamedh-ghat, nas margens do Ganges, à qual tivemos a honra de
assistir na fila da frente. Além da experiência espiritual única, Varanasi permitu-nos, também, beber o
melhor e mais conhecido Lassi [bebida feita
à base de iogurte] de toda a Índia, o qual é vendido num estabelecimento mínimo, o Blue Lassi .
Este foi,
seguramente, o melhor e mais marcante local que visitei, até hoje, em toda a
minha vida. Logo que possa, quero voltar, mas durante o Diwali, ou seja, o festival das luzes, que acontece a 24 de Outubro.
Por favor, se forem à Índia, visitem Varanasi. Escutem o conselho do vosso
amigo Lobo. É um sítio tão mágico e especial que vos vai tocar, para sempre, na
alma e no coração [e olhem que não sou criatura dada a pieguice, por isso
estas palavras carregam muito de verdade].
PS- Fotos
para breve. As melhores que alguma vez tirei.
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