terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O seu nariz está a incomodar o fumo do meu cigarro

Quem me conhece sabe que sou uma pessoa pacífica e que odeia discussões. Existem poucas coisas que me tiram do sério, mas, quando tiram, fico mesmo fora de mim. A má educação é uma delas. No Domingo à tarde, estava o Lobo a gozar os seus rendimentos na bela baía de Sesimbra, quando decido tomar um café, no bar que frequento desse o Paleolítico Médio, acompanhada pelo fantástico livro de George Orwell “1984”. Como estava muito sol lá fora, optei por ficar no interior. O sítio encontra-se destinado a fumadores e encontra-se bem sinalizado nesse sentido. Ainda nem tinha mexido o açúcar quando um senhor, com idade para ser meu avô, se sentou ao meu lado a lanchar. Após cinco minutos deu pela minha presença… e do meu cigarro. Levantou-se, indignado, e eis que vejo o vislumbre do diabo a passar pelos seus olhos. “Está tudo lixado”, pensei. “Vai fazer um escândalo”. Vocês não estão a perceber, meus 5.75 leitores. Em menos de nada, começou a esbracejar e a gritar coisas como: “Que coisa horrível, fumam em todo o lado”; “No meu tempo as mulheres não se portavam assim”; “Deviam era ser todos presos”. Fiquei sem reação. Passou-me tudo pela cabeça. A máquina de tortura do “Museu do Horror”, em Budapeste, obriga-lo a ler os livros de motivação do Gustavo Santos, ou enfia-lo na Casa do “Secret Story” com a Cátia Palhinha. De tudo o que lhe podia ter dito, apenas me saiu a seguinte tirada: “E o seu nariz está a incomodar o fumo do meu cigarro”. Sorri com ar velhaco, e enfiei o nariz no livro do Orwell. O homem calou-se e percebeu a dica. Deve-lhe ter caído a ficha e lembrou-se que estava num local para fumadores. Obviamente que não é fixe lanchar com alguém a fumar ao nosso lado. Obviamente que o tabaco deita um cheiro horrível, provoca cancro, e blá, blá, blá. A questão é que o dito entrou num café para fumadores, e, nessa conformidade, não tem legitimidade para armar escândalos com ninguém. Se não gosta, tá tudo certo. Vá para outra freguesia. Ainda vivemos [supostamente] num país democrático que nos dá liberdade de escolha. Ou não terão os fumadores também o direito de desfrutar o seu cigarro sem ser incomodados por imbecis? 

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