quarta-feira, 23 de abril de 2014

À Volta da India # 4 – Jaipur, a Cidade Cor-de-Rosa

Tal como havia relatado, a saída de Deli foi horrível. Para começar, a intoxicação alimentar quase acabou com o Lobo. A febre, os vómitos, os desmaios, fizeram com que achasse literalmente que ia morrer. Por outro lado, tivemos um problema gravíssimo com os bilhetes do comboio. Apesar de terem sido reservados com um mês de antecedência, oito horas antes da partida ainda não tínhamos recebido a confirmação. Após sucessivas idas à New Delhi Railway Station, em que o senhor do guichet [já tinha dito que A-D-O-R-O esta palavra?] não nos dava qualquer explicação e nos encaminhava para um Posto de Turismo que se encontrava encerrado, o desespero apoderou-se de nós. Em primeiro lugar, não tínhamos plano B. Ir de táxi ou de autocarro estava fora de questão porque as estradas indianas são horríveis, e o avião era caríssimo. Sem saber o que fazer, perguntamos ao recepcionista do nosso Hostel [o tal que queria chamar o curandeiro para me salvar], se, por amor a Ganesh, nos poderia ajudar. Assim que descobriu que o meu irmão vivia em Bangalore, criou-se uma afinidade entre os dois que o levou a fazer um telefonema, e pufff. Fez-se, não o Chocapic, mas três fantásticos e espetaculares bilhetes de comboio. (Nota: Para quem está de mala aviada para a India, muita atenção aos transportes. Não se esqueçam que, a esse nível, o país funciona mal, e, o melhor, é reservarem bilhetes na quota para estrangeiros, que são mais fiáveis).
A viagem de comboio durou cerca de 6 horas e foi feita em 3ª classe. As camas [vulgo tábuas] eram razoáveis, e, por oito euros, também não se podia pedir mais. Ao nosso lado viajou um simpático casal sénior que quis saber tudo sobre a nossa vida, e que ficou muito intrigado por o meu irmão ainda não me ter arranjado marido. [LOL]
Quem viu a novela da Globo: “O Caminho das Índias”, seguramente está lembrado de Jaipur, a cidade Cor-de-Rosa, e a maior do Rajastão. Confesso que não estava no auge da moral e da forma física para a apreciar convenientemente. Contudo, não deixei que a febre levasse a melhor. O nosso HOTEL, sim, escrevo HOTEL em plenas teclas porque, em toda a viagem, foi o único digno desse nome, o Sunder Palace era realmente maravilhoso, apesar do preço um pouco elevado para standards indianos: cerca de 15 euros por noite.
Ainda não tínhamos pousado as malas, e já os condutores de Rickshawo célebre transporte indiano, gritavam à nossa volta, com ofertas de City Tours. O meu irmão, rapaz pragmático e habituado a estas andanças, lá conseguiu negociar uma visita de quatro horas por 600 rupias (cerca de nove euros). O Nosso condutor, de seu nome Nana, tinha 75 anos e cabelo vermelho, pintado com hena, segundo o próprio para atrair as moças novas. Outro pormenor curioso era o facto de não parar de mascar folhas de Paan misturadas com tabaco, o que lhe deixava os dentes, ou o que sobrava deles, completamente vermelhos. Como prova da sua competência, mostrou-nos fotos suas com turistas do mundo inteiro, bem como as mensagens de agradecimento, demonstrando que o negócio do Rickshaw também tem os seus segredos de marketing.


Nana
Como dispúnhamos de apenas de um dia útil para visitar Jaipur, tivemos, com grande pena nossa, de abdicar do famoso Templo dos Macacos. A primeira paragem foi feita no Jaigarh Fort, uma construção do século XVIII absolutamente notável, com uma vista belíssima, onde o Nana nos contou a história de um Imperador que caçava animais naquelas montanhas e, por isso, foi amaldiçoado por um homem Santo, tendo morrido em agonia, após chacinar todas as esposas. Ao nosso ar pouco crédulo, garantiu-nos que a lenda era verdadeira porque lhe havia sido transmitida pelo avô, e que nos éramos uns afortunados porque não estava escrita nos guias turísticos e só ele a poderia contar. Mais um golpe do Rickshaw – Marketeer.


Jaigarh Fort

Em seguida, dirigimo-nos ao Amer Fort, onde nos cruzamos com dezenas e elefantes e camelos, destinado ao transporte dos turistas. Optamos por caminhar, já que não simpatizamos com a forma como, aparentemente, tratam os animais. [E muito pessoalmente, já tinha andado de elefante em Bali e confesso que tenho algum receio]. Verdadeira pérola do Rajastão, foi construído entre os séculos XI a XVIII, consistindo numa espécie de Medina Islâmica fortificada. A subida, acompanhada por música muçulmana, e pelo cheiro da comida  vendida nas ruas, transporta-nos para um verdadeiro cenário das “Mil e Uma Noites”. 



Amer Fort, Vista exterior da Cidadela

Encantadores de cobras; vacas pintadas; pedintes, pessoas com balanças para nos pesarmos [Oi? WTF??] e vendedores de roupas e outras bugigangas, abundam pelas ruas.  O interior é absolutamente fantástico, com jardins lindíssimos e fontes de água, que tornaram a visita absolutamente inesquecível. Durante o percurso, fomos abordados por vários indianos que nos pediram para tirar fotos, o que nos fez sentir uma espécie de estrelas de Bolywood [ou curiosidades de circo]. A maior parte das atenções foi dirigida à nossa amiga polaca I., a qual, segundo nos contaram, é parecida com uma artista americana muito conhecida na Índia.


                                                       Pedinte, com a sua vaca sagrada 


Entrada na Cidadela 

Interior do Amer Fort

Os fantásticos jardins

Ganesh

A esplendorosa decoração 


Caravana de elefantes

Outro ponto que não podemos perder foi o Jal Mahal, cuja tradução literal quer dizer “Palácio na Água”. Construído no meio do Lago Man Sagar, data do século XVIII, e a sua beleza vai muito para além as palavras. A calma, a paz e a tranquilidade que nos transmite, transformam-no na mais bela pérola do Rajastão. E para entenderem o vos quero transmitir têm MESMO que o visitar e tirar as vossas próprias conclusões.      


Jal Mahal, de cortar a respiração  

A visita à Cidade Cor-de-rosa, passou, igualmente, pelo City Palace, onde estão expostos alguns dos maiores tesouros da cidade, e pelo famoso Hawa Mahal, ou "Palácio do Vento", verdadeiro símbolo da região, e por uma tinturaria tradicional indiana, onde comprei um Sari de cerimónia, vermelho e dourado. Infelizmente, o Lobo combalido não conseguiu degustar as fantásticas iguarias gastronómicas do Rajastão, as quais, segundo os meus queridos companheiros de viagem, eram fantásticas.  [Sorte para a avozinha do Capuchinho].  

Palácio do Vento

City Palace


City Palace

Encantador de Serpentes 

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