Sei
que já me tinham cobrado uma crónica de viagem, mas confesso que tenho estado
pouco inspirada e que me custa, em certa medida, lembrar de alguns momentos
vividos no Oriente, porque sei que não se vão repetir tão cedo. Mas como não
quero entrar no novo ano com lamechices, siga a marinha.
Após
uns dias inesquecíveis em Hong Kong, rumei a Macau de Jetfoil, o barco que faz
a ligação entre as duas cidades, numa viagem de cerca de cinquenta minutos. A
entrada na antiga colónia portuguesa é imponente. À beira-mar, casinos e hotéis,
como o Sands ou o Jai Alai, impressionam qualquer visitante. O frenesim da
cidade sente-se à distância, abrindo-nos o apetite para mergulhar no território
com mais vício, por Km², do Oriente. No terminal, um rosto [literalmente] familiar esperava por mim: o meu
irmão, que, na época, vivia na China. “Podes fazer tudo. Mas mesmo tudo, à exceção
de uma coisa: dívidas de jogo. Ou corres o risco de te suicidares dentro de uma arca congeladora”. Aviso recebido, pensei. Eu que nem sou grande fã de jogos de “sorte
e azar”. Prefiro a estratégia. A estadia em Macau foi inesquecível. A junção
perfeita entre o encanto do Oriente, a herança portuguesa, e a imponência dos
casinos, confere-lhe um encanto único. Esta é a cidade que nunca dorme. Oferece
alegria e animação 24 horas por dia.
É um sítio para viver, para sentir, e não para visitar. E tem tanto para
oferecer que o tempo não chega. Fiquei realmente impressionada com a
grandiosidade do “Venitian”, o maior Casino do mundo, gémeo do congénere de Las
Vegas. Tem literalmente Veneza no seu interior, com gôndolas e a praça de S.
Marcos. Se nos abstrairmos dos milhares de chinocas histéricos para estoirar
patacas nas slots, até parece que
estamos em Itália. Nem sequer faltam as lojas caras. A prostituição declarada
foi outro dos apontamentos que me surpreendeu. Existe em todo o lado, e não é,
de todo, algo que me choque. Mas nunca tinha estado num sítio onde fosse tão socialmente aceite. No “Lisboa”, o casino mais antigo de Macau, fundado
por Stanley Ho, existem prostitutas a circular 24 horas por dia, no meio das
famílias que chinesas que vão almoçar Dim
Sum. É curioso. Outro dado interessante é que Portugal está em todo o lado.
Nos nomes das ruas, nas repartições públicas, na arquitetura, na gastronomia,
na língua. É fantástico. Em todo o lado há uma boa alma a falar português,
disposta a ajudar um pobre Lobo desorientado com um mapa em cantonês. Comer um
pastel de nata e caminhar na calçada do “Leal Senado”, foi uma experiência única.
Pensar que poderia estar a fazer o mesmo em Belém, mas, na realidade, estava no
outro lado do mundo. É sinal que um dia já fomos grandes e que espalhámos a nossa herança cultural pelo mundo. Estas influências
estão, também, na gastronomia. Tive o privilégio de provar o famoso Minchi, prato tradicional feito à base
de carne picada, batatas fritas, arroz e ovo estrelado, pelas mãos da famosa
nonagenária Aida Jesus. De referir que em Macau os restaurantes são tão baratos
que, na verdade, não compensa cozinhar em casa. Recomendo vivamente o três estrelas Michelin do Casino “Grand
Lisboa” que, apesar de exigir reserva, é super acessível. Este é um destino de
sonho, daqueles que considero que se deve visitar, pelo menos, uma vez na vida. No
entanto, existem alguns aspetos a ter em conta: nunca dizer coisas como “os
cabr*es dos chineses” em voz alta, porque há sempre um que percebe e podem
levar na tromba [como aconteceu
ao outro]. Tenham cuidado com o que pedem nas discotecas e nos bares:
por exemplo, um vodka limão é exatamente isso: um copo de vodka com um limão
espremido lá dentro. Podem imaginar o que [me] aconteceu
a seguir. Ia morrendo. Mas a língua tem
destes problemas.
Esta foi uma viagem inesquecível, que, infelizmente durou
pouco. Os voos para Singapura já estavam marcados e ficou muito por ver. Macau
encantou-me como nenhuma outra cidade me havia encantado antes. Fiquei hipnotizada pela magia do Oriente. Tanto que, passados três meses,
estaria de volta.
Sem comentários :
Enviar um comentário