segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sobre as Donas Doroteias desta vida.

Como já toda a gente leu o livro, ou viu a telenovela da grande obra de Jorge Amado: “Gabriela Cravo e Canela”, não vou decepcionar ninguém ao revelar parte do final: Dona Doroteia, chefe das beatas, paladina da moral e dos bons costumes. Sempre a puxar para o “encarneiramento”, as ovelhas que se tentavam desviar do rebanho, tinha, afinal, sido a maior “Kenga” da região. Só deixou a segunda profissão mais antiga do mundo [a primeira é a de jardineiro, que regava a árvore da vida no Paraíso] para se casar com um Coronel, e se tornar numa “Senhora da Sociedade”. Após ter destruído famílias, ter feito intrigas, que levaram à morte das tais ovelhas que se tentaram desviar do “carreiro” [caso de Dona Mocinha e do seu amante dentista], viu o nome deitado na lama, em plena praça pública. São as chamadas: “Ironias do Destino”. Isto para vos dizer que, no século XXI, choca-me que haja gente a comportar-se da mesma forma. Pior: A pensar e a agir da mesma forma. Com ou sem “podres” no passado, são pessoas que passam mais tempo a julgar o “Outro”, do que a olhar para si, para as suas próprias ideias, para os seus projetos, para o seu futuro. Na verdade ninguém as pode culpar. São criaturas pequenas, que, talvez, um dia já tenham sido grandes. Mas foram vencidas pela vida. Abandonaram-se ao sabor dos dogmas e das convenções…. Só que do século passado. Estão mais preocupadas em tentar destruir o que alguém faz, que fuja ao seu pequeno "mundinho, a preto e branco", do que em empreender algo construtivo, criativo, imaginativo. Válido para si, e para os que o rodeiam. Vivem da mesma forma todos os dias da sua vida, até que morrem, vão para um caixão escuro, e descem até ao Inferno. Fim de História. Até esse dia, comportaram-se em função do que o que o colega do lado pensava, o vizinho do lado pensava, a sogra e o periquito pensavam. Que triste existência. Oremos, irmãos. Um minuto de silêncio por estes pequenitos seres, que precisam das nossas boas energias para ter alguma salvação. Pode ser que, com a nossa ajuda, voltem a ter um laivo de sanidade mental, ganhem uma centelha de vida, e abracem este mundo. Até lá, deixo-vos as palavras inspiradoras de Pablo Neruda. Larguem de partilhar tretas lamechas no Facebook, deixem a vida dos outros, e olhem para vocês. Façam alguma coisa por vocês. Agora, silêncio. Vamos ouvir o poeta:

“Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê, quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajeto,
quem não muda as marcas no supermercado,
Não arrisca vestir uma cor nova,
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
A um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
Chuva incessante, desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
Não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo
Exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!”


Pablo Neruda

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