Foi precisamente há dois anos que o
telefone tocou. Precisamente dois anos. Atendi, e recebi a pior notícia da
minha vida. Aquele foi o dia em que não tive vontade de rir. Não tive vontade
de fazer piadas. Não tive vontade de gozar com pessoas. Aquele foi o dia em que
uma dor, dilacerante, me cortou ao meio, e ainda tive que justificar porque é
que a estava a sentir. Aquele foi o dia em que comecei a relativizar as coisas,
as pessoas. Aquele foi o dia em que percebi quem é que era realmente
importante. Quem é que estava, como os buddys do mergulho, à distância de um
braço. Aquele foi o dia em que me aprendi a portar como um homem. A chorar de
cabeça erguida. Aquele foi o dia em que aprendi que o ser humano é miserável e egoísta.
E que uma dor nunca vem só. Aquele foi o dia em que aprendi que a piedade é só
para alguns. Que é possível estar-se desfeito no chão, e alguém nos pisar, só mais
um bocadinho. Aquele foi o dia em que aprendi que a dor pode ser chacoteada,
relativizada, passada para segundo plano. Desde que não seja a nossa. Aquele
foi o dia, que durou até hoje. Estás sempre comigo.
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