quarta-feira, 27 de agosto de 2014

As (novas) relações amorosas do século XXI – Lobo, o último dos Românticos

A minha avó ensinou-me que o objetivo de vida de toda a menina de família, criada para ser uma mulher honesta, devia ser: “formar-se”, arranjar um bom marido [rico, de preferência], ter filhos e, o mais importante de tudo: “nunca envergonhar a cara aos pais”. A minha mãe sempre me disse que, na vida, o principal era construir uma carreira, e, só depois, arranjar um rapaz decente e constituir família. Não por questões sociais, mas para não correr o risco de “chegar a velha e ficar sozinha”.

Hoje, com 32 anos, olho à minha volta e constato que a maior parte das minhas amigas já teve filhos, mas não se casou: “juntou-se”. O “companheiro” ocupou o lugar do “marido”, mas sem papel passado. Legalmente, quase todas são “mães solteiras”, porque dá jeito no IRS. E porque: “em equipa que ganha não se mexe. Quem vive muito tempo junto, e depois casa, divorcia-se ao fim de pouco tempo. É o que dizem e o melhor é não arriscar”. Estas são as novas relações do século XXI. O casamento passou de moda, mas a necessidade de ter filhos não. Dar o nó é caro, implica [em teoria] um compromisso para a vida e, se a coisa correr mal, dá direito ao estado civil de “divorciado” no Cartão de Cidadão. E quem é que quer ser “divorciado”? Quem é que, legalmente, quer ser tratado como o falhado que tentou viver uma história de amor, ao jeito dos contos de fadas, e estragou tudo? Ou pior, foi trocado. Que coisa tão unfashion. Mas quanto a ter filhos fora de uma união civil, ninguém se questiona. Há umas décadas atrás, estas crianças eram consideradas ilegítimas. Era uma vergonha para a família. Felizmente as mentalidades evoluíram. É normal. O século XXI abriu portas a que os agregados fossem compostas por pai/mãe, o/a companheiro/a, o filho do pai, o filho da mãe e o filho [não, não vou escrever isso que estão a pensar] dos dois. É curioso. E, não raras vezes, mesmo vivendo juntos há muito tempo, os conjugues continuam a tratar-se por namorados, tal como escrevi neste post. Esta é a parte que me faz confusão. Muita confusão.

Considero-me uma mulher do meu tempo, com a mente aberta. Estudei, viajei, tenho uma vida dita normal, mas considero que os valores de família se estão a perder. E a noção do que é o amor também. As uniões já “não são para a vida”, o casamento é quase uma memória antropológica, as alianças peças de Museu, e os meninos já não dizem na escola que “o pai é o marido da mãe”. E não é pela falta do “papel passado”. É pela forma como se encara a pessoa que partilha a vida connosco. Sem nos darmos conta, estamos a construir uma sociedade de futuros velhos solitários. Em que ninguém está para aturar “as merdas de ninguém”. Em que as pessoas se esquivam de assumir compromissos para a vida, e começam um relacionamento amoroso com olhos postos no dia em que o mesmo vai terminar. Porquê? Por medo de ser magoado? Por comodismo? Por desconfiança? Por questões burocráticas e legais?

Tenho dificuldade em responder a estas questões, mas ainda acredito no casamento (com ou sem papel passado). Ainda acredito que o “pai é o marido da mãe”. Ainda acredito que o [anel de] diamante é o símbolo do amor eterno, e que a aliança sela um compromisso para a vida. Será o Lobo o último romântico? [cantava o saudoso Tony de Matos: “Eu sou romântico. E toda a minha vida fui romântico (…) e cada cantiga agora é um cântico]. 

1 comentário :

  1. Para não variar mais um excelente texto :)
    A poucos dias de comemorar 7 anos de casada entre altos e baixos ainda soa-me bem a palavra marido. A família para mim é tudo e ter a minha é simplesmente perfeito mesmo com todas as suas imperfeições.
    Apesar de todo o trabalho, e que trabalho que dá ceder, partilhar, desculpar (tudo aquilo que adoramos que nos façam, mas muito difícil de fazer) tenho pena que hoje a palavra família já não tenha a mesma força nem tao pouco o mesmo significado. Enfim... Parece que o lobo ainda não é o único romântico, mas estamos a desaparecer, qualquer dia oferecem-nos uma jaula envidraçada para visitas ao passado, e proteger a expecie da sua extinção ;)

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