quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Amor, Traição e Morte – Uma História da Vida Real

Já há algum tempo que estou para vos contar uma história verídica que ouvi há uns meses, e que me chocou profundamente. Envolve família, traição e morte [dava quase uma novela da TVI], e não, este post não é para rir. Há algumas décadas atrás, existiram dois irmãos que trabalhavam, por turnos, na mesma empresa. Também moravam perto um do outro, com as respetivas famílias. Um dia, um deles apaixonou-se pela mulher do outro. O Amor foi correspondido. Sempre que o irmão saía para trabalhar, esgueirava-se pela janela, e ia dormir com a cunhada. O relacionamento durou quase uma década. Até ao momento em que ela terminou. “As crianças estavam a ficar crescidas. Alguém podia descobrir”. Ele não se conformou, mas aceitou. As décadas foram passando, e o “Segredo”, ficou guardado nas brumas do tempo e da memória. Até ao dia em que Ele teve um AVC. O BI dizia-lhe que já havia passado as setenta Primaveras, e que poderia morrer a qualquer momento. Os médicos também. Não queria levar, consigo, o “Segredo”. Era demasiado pesado. Apesar da aparente calma, a consciência nunca o havia deixado em paz. Nas noites em que olhava para a esposa, que sempre lhe havia sido dedicada e fiel, os remorsos atormentavam-lhe o pensamento. “Como é que foste capaz de lhe fazer uma coisa destas? Porque é que não assumiste? Porque é que não a deixas-te em paz, para procurar um homem que a amasse e fizesse feliz? És um cobarde”. O peso tinha que ser distribuído. Já não era capaz de o carregar sozinho. Havia chegado o momento da redenção. Queria partir em paz. A esposa ficou chocada, a cunhada já havia falecido, e o irmão nunca mais lhe falou. A partir daquele dia, os filhos deixaram de saber quem era o pai. Mas, contrariando as previsões dos médicos, [esses corvos da desgraça], não morreu. Sobreviveu, e a culpa estava à sua espera. Sorria-lhe como a Serpente sorriu a Adão, antes da expulsão do Paraíso. E tinha que ser carregada. Penosamente, em frente à família, aos vizinhos, aos amigos, aos conhecidos, e aos desconhecidos. A esposa não resistiu. Entrou em depressão, e morreu, poucos meses depois. Deixou de comer. Não conseguiu entender como é que duas pessoas, que tanto amava, e em quem confiava, a tinham conseguido trair e enganar durante décadas. Logo ela, que sempre havia sido uma boa mulher, uma mãe exemplar. Uma boa cunhada. Dedicou a vida a uma falsa causa. E o tempo para recomeçar já tinha passado. Ele enforcou-se. A culpa transformou-se em doença, a doença em sofrimento. Não aguentou. No dia em que colocou um cinto à volta do pescoço, teve a certeza de que havia tomado a decisão errada. E que a vida lhe tinha, gentilmente, retribuído. No momento antes de saltar, não se arrependeu de ter traído o irmão. Não se arrependeu de ter amado uma má mulher. Arrependeu-se de ter assassinado a certa. E, finalmente, viu-se confrontado com a redenção. 

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  1. Amor, Traição e Morte – Uma História da Vida Real
    Já há algum tempo que estou para vos contar uma história verídica que ouvi há uns meses, e que me chocou profundamente. Envolve família, traição e morte [dava quase uma novela da TVI], e não, este post não é para rir. Há algumas décadas atrás, existiram dois irmãos que trabalhavam, por turnos, na mesma empresa. Também moravam perto um do outro, com as respetivas famílias. Um dia, um deles apaixonou-se pela mulher do outro. O Amor foi correspondido. Sempre que o irmão saía para trabalhar, esgueirava-se pela janela, e ia dormir com a cunhada. O relacionamento durou quase uma década. Até ao momento em que ela terminou. “As crianças estavam a ficar crescidas. Alguém podia descobrir”. Ele não se conformou, mas aceitou. As décadas foram passando, e o “Segredo”, ficou guardado nas brumas do tempo e da memória. Até ao dia em que Ele teve um AVC. O BI dizia-lhe que já havia passado as setenta Primaveras, e que poderia morrer a qualquer momento. Os médicos também. Não queria levar, consigo, o “Segredo”. Era demasiado pesado. Apesar da aparente calma, a consciência nunca o havia deixado em paz. Nas noites em que olhava para a esposa, que sempre lhe havia sido dedicada e fiel, os remorsos atormentavam-lhe o pensamento. “Como é que foste capaz de lhe fazer uma coisa destas? Porque é que não assumiste? Porque é que não a deixas-te em paz, para procurar um homem que a amasse e fizesse feliz? És um cobarde”. O peso tinha que ser distribuído. Já não era capaz de o carregar sozinho. Havia chegado o momento da redenção. Queria partir em paz. A esposa ficou chocada, a cunhada já havia falecido, e o irmão nunca mais lhe falou. A partir daquele dia, os filhos deixaram de saber quem era o pai. Mas, contrariando as previsões dos médicos, [esses corvos da desgraça], não morreu. Sobreviveu, e a culpa estava à sua espera. Sorria-lhe como a Serpente sorriu a Adão, antes da expulsão do Paraíso. E tinha que ser carregada. Penosamente, em frente à família, aos vizinhos, aos amigos, aos conhecidos, e aos desconhecidos. A esposa não resistiu. Entrou em depressão, e morreu, poucos meses depois. Deixou de comer. Não conseguiu entender como é que duas pessoas, que tanto amava, e em quem confiava, a tinham conseguido trair e enganar durante décadas. Logo ela, que sempre havia sido uma boa mulher, uma mãe exemplar. Uma boa cunhada. Dedicou a vida a uma falsa causa. E o tempo para recomeçar já tinha passado. Ele enforcou-se. A culpa transformou-se em doença, a doença em sofrimento. Não aguentou. No dia em que colocou um cinto à volta do pescoço, teve a certeza de que havia tomado a decisão errada. E que a vida lhe tinha, gentilmente, retribuído. No momento antes de saltar, não se arrependeu de ter traído o irmão. Não se arrependeu de ter amado uma má mulher. Arrependeu-se de ter assassinado a certa. E, finalmente, viu-se confrontado com a redenção.
    Publicada por Akra Barbarion à(s) 19:00:00
    Etiquetas: Crónicas do Lobo
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